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Galeria das Negras: Protagonismo em Primeira Pessoa Esterh Ferreira – Entre Tranças, Leis e Resistência
Por Administrador
Publicado em 16/10/2025 20:26
Vozes Em Movimento: Notícias das Periferias
Esterh Ferreira – Entre Tranças, Leis e Resistência

Galeria das Negras: Protagonismo em Primeira Pessoa

Esterh Ferreira – Entre Tranças, Leis e Resistência

Na edição desta semana da série Galeria das Negras: protagonismo em primeira pessoa, conhecemos a história de Esterh Ferreira, mulher negra, trancista e acadêmica de Direito. Sua trajetória revela o quanto é necessário se reinventar, resistir e reafirmar a própria identidade em uma sociedade que ainda tenta impor padrões de beleza, comportamento e lugar social.

Raízes e Infância

Natural de Formosa (GO), Esterh carrega em sua história as marcas da migração e da adaptação.

Quando chegou a Sete Lagoas, enfrentou dificuldades para se sentir parte da nova cidade, mas, com o tempo, transformou os desafios em aprendizado.

 “Minha infância foi em outra cidade, sou natural de Formosa Goiás, e quando vim pra Sete Lagoas não foi muito fácil me adaptar, porém hoje em dia tenho visto um bom desempenho meu em meio a tantas adversidades que passei ao chegar aqui.”

Desde cedo, ela entendeu que ser mulher negra é carregar um olhar diferente sobre o mundo — e ser também alvo de olhares que julgam e tentam enquadrar.

 “Me aceitarem na escola sem eu ter que me padronizar para não ser discriminada.”

Essas palavras revelam o peso do racismo cotidiano, ainda tão presente, e a coragem de enfrentá-lo sem abrir mão de si.

Profissão, Propósito e Resistência

Há seis anos, Esterh encontrou nas tranças afro uma forma de expressão e empoderamento.

Mais do que estética, seu trabalho é um ato político e de valorização da cultura negra.

 “Sempre amei penteados e mexer com cabelo e hoje vejo que isso transforma vidas. Pelo meu trabalho como trancista consigo levar conhecimento às minhas clientes e um entendimento maior sobre a ancestralidade.”

Mas ela quis ir além. Ingressou no curso de Direito, acreditando que a mudança também se faz dentro das instituições.

 “Entrei no curso porque acredito que, para haver mudanças no sistema, precisamos estar dentro dele.”

Mesmo com as barreiras do racismo e do machismo, Esterh nunca se deixou abater.

 “Tenho cicatrizes por isso. Porém, sempre me blindei acreditando em quem sou e não na cor da minha pele ou na minha sexualidade. O primeiro passo é sempre reafirmar quem somos.”

Identidade, Cultura e Orgulho Negro

Para Esterh, ser mulher negra é sinônimo de força e resistência.

 “Um orgulho, e uma amostra da resistência, de que somos muito mais fortes do que pensam.”

A cultura negra, a ancestralidade e o trabalho coletivo sustentam sua caminhada. São raízes que fortalecem e curam.

 “Pelo meu trabalho consigo levar conhecimento às minhas clientes e um entendimento maior sobre a ancestralidade.”

Ela reconhece a importância de espaços de representatividade como o COMPIR, que reafirmam as memórias e o pertencimento do povo negro.

 “Essencial para que não nos esqueçamos de quem somos, de onde viemos e tudo que passamos.”

Olhar para a Cidade e o Futuro

Esterh acredita que é preciso criar oportunidades para que mais mulheres negras ocupem seus espaços de fala e decisão.

 “Mais projetos assim. Que incentivem mulheres como nós a alcançarmos nosso lugar de fala e nosso lugar na sociedade.”

Para ela, a presença de mulheres negras nos espaços de poder é um símbolo de resistência e conquista.

 “Empoderamento, e sinal de resistência a tudo que passamos até chegarmos aqui.”

Sua mensagem para meninas e jovens negras é um convite à persistência:

“Não desistam. Chorem, mas não desistam. Pois merecemos cada conquista, e o mundo precisa ver que somos além do que nos rotularam há séculos.”

Inspiração e Legado

A maior inspiração de Esterh vem de sua mãe — mulher forte, determinada e sem oportunidades de estudo, mas que construiu tudo com garra.

 “Minha mãe teve que sair cedo de casa, não teve oportunidade de estudar. Mesmo assim, nos criou com determinação e garra e nos ensinou que o ensino, junto com a força de vontade, pode nos tornar melhores.”

Sobre o papel da mulher negra nos espaços de poder, ela afirma com convicção:

 “É uma conquista enorme, pois até o século XIX éramos proibidas de entrar em lugares públicos ou de seguir carreiras. Ver toda a luta passada para hoje termos lugar na sociedade é algo muito importante.”

E quando perguntada sobre o momento de maior orgulho da sua trajetória, ela responde com simplicidade e profundidade:

“Não desistir.”

Esterh Ferreira é a expressão viva de uma geração de mulheres negras que transformam a dor em força, o preconceito em coragem e a resistência em beleza.

Cada trançado de cabelo que ela faz é também um fio de memória — e cada palavra sua, um lembrete de que nossa luta é coletiva, mas começa no ato individual de não desistir.

Série Galeria das Negras – Protagonismo em Primeira Pessoa

Coluna Vozes em Movimento – Agência de Notícias RMBH

Projeto idealizado pelo Movimento Galeria das Negras

By Rute Alves – jornalista colaboradora e Assistente Social.

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