Periferia e diversidade rompem barreiras históricas no I Encontro de Grupos de Defesa das Mulheres em Sete Lagoas
Na manhã de hoje, Sete Lagoas assistiu ao que pode ser considerado um divisor de águas em sua trajetória política e social. A realização do I Encontro de Grupos de Defesa das Mulheres, promovido conjuntamente pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM) e pelo Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR), marcou um avanço simbólico e concreto em uma cidade historicamente reconhecida por seu conservadorismo, suas estruturas elitizadas e a dificuldade de abertura para práticas realmente plurais.
Ao reunir mulheres de diferentes bairros, especialmente da periferia, o encontro extrapolou a dimensão de um simples evento institucional. Ele se tornou um gesto político, uma ruptura com a “linha imaginária” que por décadas separou os centros de poder das vozes que brotam das bordas da cidade. A presença das periferias não foi apenas numérica — foi simbólica, potente e transformadora.
O espaço foi marcado pela pluralidade: mulheres, lideranças comunitárias, profissionais de diversas áreas e mulheres com distintas instruções e vivências compartilharam entre si saberes que não só se complementavam, mas se fortaleciam mutuamente. Esse encontro entre diferentes mundos produziu uma troca rica e necessária, reafirmando que a construção coletiva nasce da diversidade real e não da homogeneização das experiências.
Palestrantes que compuseram essa construção coletiva
As reflexões conduzidas por Dra. Inês e Nana Andrade ampliaram ainda mais o sentido do fortalecimento coletivo, promovendo um ambiente de acolhimento e abertura, sem que o evento se transformasse em uma arena de reivindicações. Pelo contrário: foi um espaço de união, conexão e afirmação de potências, onde cada mulher pôde se reconhecer na história da outra.

A potência política dos conselhos nessa construção
A parceria entre o CMDM e o COMPIR foi essencial para a profundidade e legitimidade dessa ação. Cada conselho, dentro de sua especificidade, sustentou pilares fundamentais:
CMDM – Conselho Municipal dos Direitos da Mulher:
Reforçou a centralidade das políticas de proteção, promoção e garantia de direitos. Sua atuação foi decisiva para promover o encontro como espaço seguro e afirmativo, valorizando as diversas formas de ser mulher em Sete Lagoas.
COMPIR – Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial:
Trouxe a dimensão racial como eixo indispensável para qualquer debate sobre equidade. Em uma cidade onde desigualdades raciais ainda são pouco enfrentadas pelo poder público, a presença do COMPIR deu densidade política ao evento e reafirmou que discutir mulheres sem discutir raça é perpetuar injustiças.
Essa atuação conjunta rompeu uma lógica histórica de fragmentação institucional, abrindo espaço para práticas intersetoriais que dialogam diretamente com as desigualdades estruturais presentes no território.
Um marco que desloca estruturas
Num município em que a elite econômica e cultural tradicionalmente pauta os espaços de decisão e legitimidade, ver mulheres periféricas, negras e de diferentes trajetórias ocupando o centro do debate público representa mais do que um evento bem-sucedido: representa um avanço na fronteira simbólica da cidade.
Esse encontro sinaliza que Sete Lagoas está vivendo um movimento de deslocamento, ainda inicial, mas profundamente significativo.
As mulheres presentes ali — com seus corpos, vozes, afetos e vivências — desafiaram a geografia social que sempre ditou quem pode participar, quem pode falar e quem pode ser ouvida.
O I Encontro de Grupos de Defesa das Mulheres se encerra, portanto, como um marco político e social. Ele não apenas reuniu mulheres; ele costurou redes, abriu caminhos e levantou pontes onde antes existiam muros.
E, sobretudo, mostrou que a mudança começa quando as bordas se encontram e ocupam o centro com dignidade, consciência e potência.
By Rute Alves – Coluna Vozes e Movimento, Agência de Notícias RMBH