Protagonismo em Movimento: Mulheres Negras Periféricas reafirmam voz e força coletiva
O evento "Contra o Racismo, o Sexismo e a Invisibilidade: A luta das mulheres negras é coletiva", realizado na última sexta-feira (15) na Câmara Municipal de Sete Lagoas, em alusão ao 25 de julho – Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, não foi apenas uma atividade comemorativa. Foi, acima de tudo, um ato de afirmação, escuta e mobilização das mulheres negras periféricas do município.
A Secretaria Municipal de Assistência Social teve papel fundamental ao mobilizar os territórios e trazer mulheres negras dos CRAS, garantindo que o público diretamente impactado por racismo estrutural e sexismo estivesse presente e ocupasse aquele espaço. Falar sobre antirracismo estrutural e institucional dentro de um órgão público, com representantes do legislativo, da OAB, da Secretaria da Mulher e de movimentos sociais, é mais do que simbólico – é estratégico e necessário. Afinal, racismo se combate com políticas, ações e presença.

O racismo estrutural se manifesta todos os dias nas periferias: na ausência de saneamento básico, na dificuldade de acesso a empregos dignos, na precariedade da saúde pública, no transporte deficitário e na falta de equipamentos culturais e esportivos. Quando olhamos para a realidade das mulheres negras, a sobrecarga se agrava com jornadas múltiplas, baixa remuneração, violência doméstica e invisibilidade nos espaços de poder. É por isso que iniciativas como essa, que dão voz e visibilidade, precisam ser fortalecidas.
O evento contou com a presença e apoio de parlamentares como Rodrigo Braga, Leôncio, Caio Valace, Heloísa Frois e Roney, que contribuíram para que essa ação fosse possível. A cantora Nanda Costa emocionou o público com sua apresentação, e as falas das palestrantes Dra. Thaís Campos, Ariele e Nany trouxeram reflexão, conhecimento e inspiração.
Outro ponto de destaque foi o protagonismo do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR), que assumiu a liderança dessa pauta no município, reafirmando seu papel enquanto articulador e guardião das políticas de igualdade racial. O COMPIR mostrou que a luta contra o racismo não é apenas uma bandeira, mas um compromisso contínuo, construído com diálogo e mobilização comunitária.

No entanto, é preciso fazer uma reflexão crítica: não podemos permitir que órgãos públicos limitem o combate ao racismo a um calendário anual de eventos. A luta é diária. O enfrentamento ao racismo precisa ser constante e acompanhado de uma educação popular de letramento racial, para que pessoas negras – especialmente as mulheres – compreendam quando estão sendo vítimas de racismo e possam reagir, denunciar e se proteger. Enquanto o racismo estrutural e institucional continuar operando todos os dias, a resposta da sociedade também deve ser diária, firme e coletiva.
A presença de diferentes órgãos e representantes nesse evento demonstra que o combate ao racismo não é responsabilidade de um único setor, mas uma tarefa coletiva. Só assim poderemos enfrentar séculos de exclusão e construir uma cidade mais justa, diversa e igualitária.
Que essa ação não seja um ponto isolado, mas parte de um movimento contínuo onde as mulheres negras periféricas de Sete Lagoas sigam ocupando, decidindo e transformando. Porque, como diz o próprio tema do evento, a luta das mulheres negras é coletiva – e é na coletividade que vencemos.
By Rute Alves de Lima
Coluna Vozes em Movimento