Vozes em Movimento
Galeria das Negras: protagonismo em primeira pessoa
Fláviana Pereira – mulher negra, lutadora e Agente de proteção
A cada semana, a coluna Galeria das Negras: protagonismo em primeira pessoa, da Agência RMBH, dá visibilidade às trajetórias de mulheres negras de Sete Lagoas e região. São histórias de resistência, força e transformação que muitas vezes permanecem invisíveis diante do racismo estrutural que marca nossa sociedade.
Hoje, apresentamos
Fláviana Pereira é Comissária, agente de proteção à criança e ao adolescente da Comarca de Sete Lagoas/MG. Também atua como Terapeuta-T.O. Mulher de sorriso firme e de lutas diárias, ela se define como uma mulher negra marcada pela ancestralidade, que carrega em sua trajetória a força e a beleza herdada de sua família.
“Sou uma mulher forte, de lutas diárias e feliz. A minha identidade negra é uma fonte de orgulho e de muita luta. Nem sempre o mundo me reconhece ou me acolhe, mas sigo com coragem. Hoje, sou muito feliz e orgulhosa de mim. Mulher negra é sempre resistência”, afirma.

Trajetória e infância:
A infância de Fláviana foi marcada por dificuldades. Cresceu observando de perto a luta de sua mãe e de sua tia para sustentar a família. “Foi uma infância complicada, mas também cheia de aprendizados sobre resiliência e força”, relembra.
O racismo esteve presente em sua vida desde cedo — e ainda hoje se manifesta no cotidiano. “Infelizmente ainda enfrento situações, até mesmo entre colegas da área da saúde, que reproduzem atitudes racistas”, denuncia.
Caminho profissional:
O que levou Fláviana a seguir sua profissão foi a luta pela vida e pela dignidade humana. Como comissária e terapeuta, ela se dedica a garantir proteção, acolhimento e cuidado.
Sobre conquistas, ela afirma que todas têm valor. “Todas as minhas conquistas são valiosas e marcantes. Hoje, ser forte e acreditar que tudo é possível com paz é o que me move.”
Identidade, cultura e resistência:
Fláviana reconhece em sua trajetória a marca da ancestralidade e da cultura negra.
“Venho de uma família negra e é dela que tiro minha força. Minha maior inspiração é a minha família negra lutadora, meus amigos próximos e meu filho Henrique, um homem negro, Psicanalista e feliz, que luta por seu espaço todos os dias.”
Para ela, o Mês da Consciência Negra é mais do que uma celebração: é um período de lutas, reflexões e reafirmação de caminhos.
“A verdadeira consciência é aquela que enxerga e combate ao racismo estrutural em todos os espaços”, afirma com firmeza.
Olhar para Sete Lagoas e para o futuro:
A entrevistada sonha com uma cidade mais justa e com maior protagonismo para as mulheres negras. “Gostaria de ver milhares de mulheres juntas em Sete Lagoas, buscando uma voz mais ativa em todos os setores, principalmente na saúde”, defende.
Fláviana também critica a falta de mulheres negras em posições de liderança. “Ainda é complicado. Temos poucas mulheres negras no poder, mas sigo orgulhosa de mim e da minha caminhada.”
Ela deixa um recado às meninas e jovens negras que sonham com o futuro: “Sigam firmes, porque nossa trajetória é marcada de lutas, mas também de conquistas. Somos fortes e capazes.”
Encerramento:
Na entrevista, Fláviana reforça um pedido: que o reconhecimento vá além da palavra “negra” e se traduza em atitudes concretas, especialmente nos serviços básicos da cidade.
Com orgulho de sua história, ela conclui:
“Minha caminhada e minha trajetória serão sempre marcadas pela luta e pela resistência.”
By Rute Alves