Vozes em Movimento
Galeria das Negras: protagonismo em primeira pessoa
Thais Fernanda de Oliveira Campos – transformar dor em luta, resistência em protagonismo
Na edição desta semana da série Galeria das Negras: protagonismo em primeira pessoa, conhecemos a história de Thais Fernanda de Oliveira Campos, advogada e presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB Sete Lagoas. Mulher negra, mãe solo e descendente de povos indígenas escravizados, Thais é exemplo de como trajetórias marcadas por dor podem se transformar em luta e inspiração.
“Valorizarmos mulheres negras é reconhecer trajetórias de resistência, coragem e superação. Compartilhar nossas histórias é dar visibilidade à força da mulher negra e inspirar outras a seguirem confiando em seus sonhos”, afirma.
Infância, Desafios e Superações:
Filha de família humilde, Thais cresceu em meio a dificuldades financeiras, mas também cercada por valores como solidariedade, fé e persistência. Desde cedo enfrentou o preconceito racial, o machismo e a exclusão social.

Um episódio doloroso marcou sua vida: a violência doméstica. “Infelizmente, essa realidade atinge de forma desproporcional mulheres negras e de baixa renda. Mas foi um divisor de águas. Foi minha formação em Direito que me deu instrumentos para me defender, me proteger e seguir em frente com dignidade.”
Durante a faculdade, também enfrentou situações de assédio estudantil e, já na advocacia, lida com formas veladas de assédio vindas, muitas vezes, de homens em posição de poder.
“Esses episódios, em vez de me calarem, me fortaleceram para lutar contra as desigualdades e denunciar injustiças.”
Direito como Instrumento de Transformação:
A escolha pelo Direito nasceu da necessidade de transformar dor em luta.
“Queria ser voz para quem não tem voz. A advocacia me deu a chance de usar o conhecimento como ferramenta de resistência e transformação social.”
A caminhada não foi fácil. Thais estudou com o apoio do FIES, enfrentou a falta de recursos, quase desistiu, mas seguiu firme. “O racismo e o machismo estiveram presentes: olhares que duvidavam da minha capacidade, barreiras no mercado de trabalho, tentativas de me silenciar. Mas resisti.”
Hoje, ela se orgulha de ter iniciado sua carreira já reconhecida na defesa do consumidor e de ocupar o cargo de presidente da Comissão de Direito do Consumidor da OAB em sua cidade — um espaço que simboliza luta, conquista e representatividade.
Identidade, Ancestralidade e Resistência:
Ser mulher negra, para Thais, é carregar a força da ancestralidade. “É ter consciência de que nossas conquistas são coletivas e abrem caminho para outras que virão.”
Ela traz consigo a memória de seus ancestrais indígenas e negros que resistiram à escravidão e à exclusão. “Essa herança me guia e me dá coragem.”
Sobre o Mês da Consciência Negra, é categórica: “É um momento de reflexão e ação, porque a luta contra o racismo estrutural é contínua. Espaços como o COMPIR são fundamentais para dar voz política e representatividade ao povo negro em Sete Lagoas.”
Cidade e Futuro:
Thais sonha com uma sociedade mais justa e igualitária. “Desejo ver mais oportunidades concretas para mulheres negras: acesso à educação de qualidade, igualdade no mercado de trabalho e políticas públicas que enfrentem a violência doméstica, que ainda é uma chaga profunda em nossa sociedade.”
Ela reforça a necessidade de ampliar a presença de mulheres negras nos espaços de poder e decisão: “Ainda é tímida, mas é urgente que avancemos para que nossas vozes estejam onde as decisões são tomadas.”
E deixa sua mensagem às meninas e jovens negras:
“Nunca permitam que a cor da pele, a origem social ou o gênero sejam vistos como limites. Nossa história é de força e resistência. Estudem, sonhem grande e saibam que vocês são capazes de ocupar qualquer espaço que desejarem.”
Encerramento:
A história de Thais é feita de resistência, dor transformada em força e esperança. A violência e o preconceito não a definiram, mas a impulsionaram. Sua trajetória reafirma que as mulheres negras não são coadjuvantes, mas protagonistas da transformação social.
“Quero que minha caminhada mostre que é possível romper ciclos de opressão e conquistar espaços que por tanto tempo nos foram negados.”
By Rute Alves