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Andréa Ribeiro da Silva: a força ancestral de uma mulher que renasce das suas próprias lutas Por Vozes em Movimento
Por Administrador
Publicado em 09/10/2025 17:33
Vozes Em Movimento: Notícias das Periferias
Andréa Ribeiro da Silva: a força ancestral

Andréa Ribeiro da Silva: a força ancestral de uma mulher que renasce das suas próprias lutas

Por Vozes em Movimento

Na edição desta semana da série Galeria das Negras: protagonismo em primeira pessoa, conhecemos a história de Andréa Ribeiro da Silva, mulher negra, assistente social e facilitadora de oficinas de arte em uma organização da sociedade civil de Sete Lagoas. Aos 50 anos, ela representa a força e a doçura de quem transformou as dores da vida em aprendizado, fé e propósito.

Foi mãe solo aos 18 anos, quando a vida lhe apresentou o primeiro grande desafio — e também o primeiro grande amor. Hoje, fala com orgulho dos filhos: o mais velho, de 31 anos, é uma mulher trans, e a caçula, de 28, “é uma guerreira como a mãe”. Andréa fala deles com brilho nos olhos, reconhecendo que ambos são frutos da coragem com que ela sempre enfrentou a vida.

 “Enquanto mulher negra, eu sei que carrego em mim a garra dos meus ancestrais. Sou o resultado de muitas lutas que vieram antes de mim.”

Raízes e resiliência

A infância de Andréa foi vivida nas ruas tranquilas de Sete Lagoas, onde as brincadeiras se estendiam até o cair da noite, sob o olhar atento da mãe. Filha de pais vindos de Cordisburgo, cresceu aprendendo que caráter, respeito e educação eram valores que sustentavam qualquer caminho.

“Em casa, não se falava muito sobre cor da pele, mas sobre ser uma boa pessoa”, lembra. Ainda assim, ela reconhece que a força que a move é a mesma que guiou tantos homens e mulheres negras antes dela: a força de resistir e se reinventar.

 

O chamado do Serviço Social

A vocação de Andréa nasceu no hospital. Foi lá, entre corredores, pacientes e histórias de dor, que ela descobriu o poder de ouvir, acolher e mediar.

 “Percebi que muitas vezes os conflitos existiam apenas por falta de alguém que escutasse com empatia. E foi ali que o Serviço Social me escolheu.”

Durante sua formação acadêmica, o estágio mais marcante foi na APAC de Sete Lagoas, onde teve contato direto com a realidade das pessoas privadas de liberdade.

Conheci o outro lado — o lado que é julgado. E entendi que, por trás de cada erro, há uma história que precisa ser ouvida.”

Identidade e consciência

Ser mulher negra, para Andréa, é carregar no corpo as marcas da história e, no coração, a chama da ancestralidade.

“A cultura negra me ensinou a ser forte. Mesmo quando tudo parecia ruir, eu lembrava dos que vieram antes e resistiram. E isso sempre me deu força para continuar.”

O Mês da Consciência Negra, para ela, não é apenas uma data no calendário — é um ato de memória e continuidade.

 “É o momento de lembrarmos de onde viemos, do quanto lutamos, e de reafirmar que ainda temos muito a conquistar.”

Orgulho e legado

Sua maior inspiração é o pai — um homem negro que, criança, ia para a escola a cavalo e, depois de muita luta, tornou-se caminhoneiro.

 “Ele saiu da roça para a cidade e construiu uma história linda. Quando digo a ele que sou a primeira da família a ter uma faculdade, vejo o orgulho no seu olhar. Ele me diz que puxei a ele — e é verdade. Eu herdei dele a coragem.”

Uma mensagem às novas gerações

Com um tom de sabedoria e ternura, Andréa deixa um recado às meninas e meninos negros:

“Aprendam sobre a nossa história. Orgulhem-se dela. Mostrem ao mundo que somos capazes. Que somos fortes. Que somos lindos na nossa cor, na nossa luta e no nosso jeito de existir.”

Hoje, Andréa segue ensinando arte, semeando autoestima e reconstruindo narrativas. Sua trajetória é mais do que uma história pessoal — é um testemunho de resistência, um lembrete de que a mulher negra não apenas sobrevive: ela transforma, inspira e abre caminhos para os que virão.

Texto integrante da série “Vozes em Movimento” – Agência de Notícias RMBH By Rute Alves 

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