Tribuna é do Povo, Não da Farda
Sete Lagoas (MG) — Durante a última reunião ordinária da Câmara Municipal de Sete Lagoas, uma fala de um vereador da base governista gerou desconforto e indignação entre conselheiros, lideranças comunitárias e defensores dos direitos humanos. Ao rebater um cidadão que utilizou a tribuna para denunciar casos de truculência por parte da Polícia Militar contra pessoas em situação de rua, o parlamentar, que é ligado à corporação, se colocou em defesa institucional da PM e desqualificou a fala popular, afirmando que “mentiras e acusações sem provas não serão mais toleradas”.
A tentativa de silenciar a denúncia legítima feita por um munícipe evidenciou um problema grave: a inversão de prioridades por parte de representantes eleitos, que deveriam atuar como ponte entre o povo e o poder público, mas que parecem mais preocupados em proteger estruturas estatais do que defender os direitos da população.
O vereador em questão foi eleito com uma bandeira, voltada à inclusão e ao cuidado com pessoas com deficiência. No entanto, sua atuação no parlamento tem sido marcada por uma defesa enfática e unilateral da Polícia Militar, ignorando pautas urgentes como a reestruturação da Guarda Civil Municipal, que segue com efetivo reduzido, sem plano de carreira e com baixos investimentos.
Embora o caso da repressão contra trabalhadores informais e ambulantes não tenha sido tratado nessa mesma sessão, outro vereador já havia feito esse alerta em reuniões anteriores, denunciando o uso da força para impedir o trabalho digno de pessoas que buscam o sustento com dignidade nas ruas da cidade.
A exaltação de instituições públicas não pode se sobrepor ao direito da população de denunciar abusos e exigir mudanças. A tribuna popular é um espaço de escuta e de construção democrática — e deve servir para dar voz a quem nunca teve vez.
Organizações populares e movimentos sociais reforçam: vereadores são eleitos para representar o povo — e não para vestir a farda no plenário.